RELATÓRIO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
NO COLÉGIO CLIP NO ANO DE 2002

Introdução

Os objetivos principais da pesquisa realizada com os alunos do Colégio CLIP – Guarulhos foram avaliar o desenvolvimento cognitivo e a funcionalidade cerebral das crianças matriculadas no ensino fundamental (Grupo EF) e de um grupo de crianças portadoras de deficiências de aprendizagem (Grupo EE), motivadas por diversas etiologias.

As tarefas utilizadas para avaliação cognitiva e da funcionalidade cerebral foram selecionadas entre as atividades informatizadas do Sistema ENSCER, de acordo com o grupo a ser estudado.

Para o Grupo EF utilizou-se:

  1. atividades para cálculo aritmético (soma, subtração, multiplicação e divisão): as crianças da 1ª série realizaram soma e subtração; as da 2ª realizaram soma, subtração e multiplicação, enquanto que as crianças das 3ª e 4ª séries realizaram todas as operações.
  2. atividades de contar e enumerar: as crianças da primeira série realizaram atividades de associação entre números e quantidades.
  3. leitura: as crianças da primeira série realizaram atividades de leituras de palavras, enquanto que as crianças das demais séries realizaram atividades de leituras de frases. As palavras e frases utilizadas faziam parte de uma história apresentada no início dos testes.

Para o Grupo EE utilizou-se:

  1. as mesmas atividades do Grupo EF: quando a criança estava matriculada no ensino fundamental e tinha capacidade para realizar a tarefa solicitada;
  2. atividades de contar e enumerar: atividade simples de associação quantidade, numeral e nome do número apresentado oralmente;
  3. identificação de letras e números: identificação de pares de letras ou números em distintas posições;
  4. identificação de cores e formas: identificação de pares de figuras de cores ou formas definidas;
  5. quebra-cabeças: montagem de quebra-cabeças de diversos graus de dificuldade.

Avaliou-se o tempo de resposta e o erros cometidos para cada uma das atividades realizadas.

A funcionalidade cerebral foi estudada com a técnica de Mapeamento Cerebral Cognitiva, desenvolvida pela EINA. Obteve-se os Mapas Cognitivos e Fatoriais para:

  1. cada uma das séries do ensino fundamental e para cada uma das atividades cognitivas descritas acima;
  2. para cada indivíduo e cada uma das atividades cognitivas descritas acima, tanto para o Grupo EF quanto EE.

Resultados

1 - Alunos da Educação Fundamental

1.2 - Matemática

Os resultados obtidos para os diversos subgrupos do Grupo EF confirmaram as observações anteriormente realizadas pela EINA com grupos de adultos e de crianças em outras instituições escolares, e permitiram ampliar o entendimento do desenvolvimento cognitivo e cerebral durante essa fase escolar, pois muitas dessas atividades puderam ser estudas em mais de uma série escolar.

Os dados com adultos e preliminares com crianças em idade escolar, mostravam que os homens e meninos tendem a responder mais rapidamente as questões de aritmética que as mulheres e meninas, embora com o mesmo grau de confiabilidade.

Os resultados obtidos no Colégio CLIP, mostram que essas diferenças começam a se estabelecer já a nível de 1ª série, pois a esse tempo os meninos já são mais rápidos nos testes de associação números/quantidades do que as meninas. Na primeira série, ainda não se observam diferenças no tempo de resposta tanto para as questões de soma como subtração. Esses tempos começam a se reduzir para os meninos, em comparação com as meninas, a partir da 2ª série. Na 4ª série as diferenças já se implantaram para a soma, subtração e multiplicação.

Fig. 1 – Exemplo de uma atividade de soma

As crianças de todas as séries utilizaram muita manipulação para resolver os problemas de aritmética. Essa manipulação é mais ostensiva nos primeiros anos e menos aparentes na 4ª série. As crianças mais novas movimentam mais ostensivamente os dedos ou apontam mais claramente os objetos na tela do computador, enquanto que as crianças mais velhas tendem a realizar poucas e pequenas movimentações de alguns dedos ou pequenos movimentos de cabeça para focalizar objetos na tela.

A quantidade de erros diminui com o treinamento, isto é, se reduz, como esperado, da 1ª para a 4ª série, e não mostrou nenhuma correlação com o sexo da criança.

MCC

FM1

FM2

FM3

MCC

FM1

FM2

FM3

OP

AD

SU

PR

DI

MENINOS MENINAS
Fig. 2 – Atividade cerebral e aritmética

Os Mapas Cognitivos Cerebrais (MCC na Fig. 2) foram diferentes para nos meninos e meninos em todas as operações aritméticas. As áreas mais recrutadas ( em vermelho ) tendem a estar mais amplamente distribuídas nas meninas do que nos meninos.

O Mapas Fatoriais (MF1 a MF3 na Fig. 2) mostram que as diversas áreas cerebrais se associaram de maneira diferente nos meninos e meninas, tanto para a compressão (MF1) como para o processamento (MF2) da tarefa e para a codificação da resposta (MF3), em todas as operações aritméticas.

Esses dados confirmam a hipótese de que meninos (homens) e meninas (mulheres) utilizam estratégias diferentes para solucionar questões de aritmética, e corroboram resultados encontrados com adultos e descritos na literatura mundial.

1.3 - Linguagem

Os resultados obtidos para os diversos subgrupos do Grupo EF confirmaram as observações anteriormente realizadas pela EINA com grupos de adultos, que mostraram que não há diferenças entre sexos nos tempos de resposta ou na quantidade de erros cometidos na leitura de frases contidas em uma história apresentada ao início dos testes.

História apresentada oralmente antes do teste de leitura

Exemplo de teste de leitura

Fig. 3 – Exemplo de uma atividade de leitura

MCC

FM1

FM2

FM3

Fase


Leitura


Análise visual

Fig. 4 – Atividade cerebral e leitura

Os Mapas Cognitivos Cerebrais (MCC na Fig. 3) foram diferentes para as fases de leitura e análise visual, mostrando um aumento da ativação do córtex posterior durante a análise visual. Já os Mapas Fatoriais ( MF1 a MF3 na Fig. 3) mostraram-se muito semelhantes nas duas fases, mas diferiram para a compreensão da leitura (MF1), recodificação verbal-visual (MF2) e tomada de decisão (MF3).

O padrão de atividade mostrada na Fig. 4 também não diferiu muito em relação ao encontrado para os adultos.

2.1 Analise Individual das crianças do Ensino Fundamental

A análise fatorial da atividade elétrica em cada criança do Grupo EF revelou a existência de 3 fatores, relacionados cada um deles, à compreensão, solução e execução (codificação da resposta) de cada atividade.

O primeiro fator envolveu, em geral um maior número de áreas, que tiveram uma distribuição bilateral e anterior. O segundo fator tendeu a envolver áreas posteriores visuais e às vezes anteriores centrais. O terceiro fator mostrou um padrão mais variado entre as diversas atividades, mas também tendeu a envolver áreas nos dois hemisférios.

FM1

FM2

FM3

 

Charada

leitura

análise visual

subtração

produto

divisão

adição

Fig. 5 – Análise fatorial para as diversas atividade de uma criança do Grupo EF

 

2.2 - Análise Individual das crianças portadoras de deficiência

A análise fatorial da atividade cerebral no Grupo EE revelou a presença de 3 fatores, como no grupo EF, para aquelas crianças com bom desempenho nas atividades executadas, e apenas 2 fatores quando demonstraram muita dificuldade na solução da tarefa. A Fig. 6 mostra os resultados obtidos com 3 crianças portadoras da Síndrome de Down.

O aluno 1 cursa o último ano da Educação Infantil, e é considerado um aluno com bom desempenho. Durante os testes, realizou as atividades com relativa facilidade, apresentando poucos erros. A atividade cerebral mostrou um padrão semelhante àquele observado para as crianças do Grupo EE, como fica evidente pela comparação das Figs. 5 e 6.

Aluno 1

Aluno 2

Aluno 3

Fig. 6 – Análise fatorial para 3 crianças portadoras da Síndrome de Down

O aluno 2 cursa a 3ª série do Ensino Fundamental e é considerada como uma criança com desenvolvimento cognitivo razoável, dominando relativamente bem as operações de soma e subtração. É capaz de ler, porém, tanto a professora como a família, relatam que muitas vezes a criança parece não entender bem o que leu. A análise fatorial mostra a presença de 3 fatores para as atividades de aritmética e para a fase de leitura da charada. Entretanto, na fase de análise visual quando deve fazer uma correlação entre a informação lida e as imagens apresentadas, observa-se a ocorrência de apenas 2 fatores.

O aluno 3 cursa a 1ª série do Ensino Fundamental e é considerada como uma criança com baixo rendimento escolar e com muitas dificuldades cognitivas. A análise fatorial mostra o ocorrência de apenas dois padrões de associações de áreas cerebrais para todas as atividades realizadas.


Conclusões

Os resultados obtidos com o Grupo EF confirmaram os resultados anteriores encontrados pela EINA com adultos e crianças em idade escolar. Permitiram, também, uma ampliação o conhecimento sobre o desenvolvimento cognitivo e cerebral das crianças cursando o Ensino Fundamental.

Um resultado inovador parece ser aquele obtido com a análise fatorial aplicada ao estudo da atividade cerebral de cada indivíduo, quando comparados os resultados encontrados para os Grupos EF e EE.

Tem sido uma constante nas análises de grupos em todas as pesquisas realizadas pela EINA, o achado de que 3 padrões de atividade cerebral explicam em torno de 80% das variações associações de áreas cerebrais para a solução das tarefas propostas. É o que ocorreu com a análise feita por série escolar no grupo EF.

A análise fatorial da atividade cerebral individual no Grupo EF revelou, nesse estudo, que na maioria dos indivíduos, 3 padrões de associação de áreas cerebrais explicam, também, em torno de 80% das variações de associações de áreas utilizadas na solução de cada um dos problemas apresentados em uma tarefa dada.

O fato marcante foi o desvio desse padrão de 3 agrupamentos de áreas cerebrais quando analisadas as crianças do Grupo EE. Parece que esse desvio está intimamente associado à dificuldade cognitiva experimentada pela criança.

Nem todas as crianças do Grupo EF exibiram 3 padrões de recrutamento cerebral para a solução de todas as atividades que realizaram. Entretanto, descobriu-se que os casos nos quais a criança mais se diferenciou do grupo, parecem estar relacionadas a dificuldades de aprendizagem (leitura e cálculo) que só agora começam a ser detectadas pelas professoras.

Um exemplo é a criança PV, que cursa atualmente a 2ª série do Ensino Fundamental. A criança teve um desenvolvimento considerado até o momento como de normalidade, embora haja uma queixa de PV ser uma criança muito ativa. Nesse ano, entretanto, a professora começou a notar que a criança está com dificuldades com a leitura e aritmética. Ressalta também que em muitas vezes a criança para estar fora de contexto, a partir dos comentários inadequados que faz em relação à situação.

Fig. 7 – EEG mostrando padrão alterado de atividade principalmente em P3 e PZ para o PV.

A análise fatorial da atividade elétrica de PV durante a realização das atividades a que foi submetido, mostrou a existência de um único padrão de associação cerebral para todas as tarefas. A análise visual do seu registro eletroencefalográfico (Fig. 7) mostra a ocorrência de um padrão de atividade elétrica alterada, principalmente nas derivações P3 e Pz, que poderiam estar associadas a um possível quadro leve de Hiperatividade, Dislexia e Discalculia. A hipótese de hiperatividade já havia sido aventada por seu neurologista no ano passado.

Em suma, os resultados das pesquisas realizadas no Colégio Clip, são bastante animadores, e sugerem que esse tipo de estudo deve continuar e ser ampliado para outras populações de crianças em idade escolar.