Contrato de Conduta Social |
A tradição do uso da linguagem escrita como meio de transmissão, aquisição e expressão do conhecimento impõe às crianças portadoras de distúrbios de aprendizagem uma dificuldade extra para seu aprendizado. Por esse motivo, a escola moderna deve reconhecer como direitos dessas crianças:
1) a adequação da complexidade dos textos utilizados pela professora: esses textos devem ter a complexidade adequada à capacidade de leitura, escrita e atenção da criança, tanto no que se refere ao trabalho em língua materna, quando em aritmética, ciências e outras disciplinas;
2) apoio para os textos utilizados pela professora: a professora ou sua auxiliar deve trabalhar isoladamente com cada criança para que ela consiga compreender o texto da tarefa proposta. Se a capacidade de leitura e escrita da criança não é compatível com o texto (como nos casos de grande defasagem na alfabetização em relação às outras disciplinas), a professora ou sua auxiliar deve apresentar o texto oralmente e fornecer à criança toda e qualquer explicação necessária para que ela possa realizar a tarefa proposta a contento;
3) avaliação oral de seu conhecimento: a dificuldade no manuseio da leitura e escrita deve ser eliminada do processo de avaliação do progresso cognitivo da criança. Uma vez identificados os distúrbios de atenção ou de alfabetização da criança, o seu desenvolvimento nas outras disciplinas deve ser avaliado de maneira independente, utilizando-se para isso a linguagem oral e ferramentas visuais, que permitam a criança a expressar sem dificuldades seu conhecimento sobre os temas abordados;
4) utilização de processos alternativos de comunicação:
sempre que a capacidade de comunicação oral também estiver
comprometida (como no caso dos deficientes auditivos ou dos portadores de
DDL) a escola deve estar preparada para utilizar métodos alternativos
eficientes para comunicação com a criança. A LIBRAS (Língua
Brasileira de Sinais) é, ao lado do português, uma língua
oficial no país e, portanto, a escola tem que estar capacitada no seu
uso;
5) utilização de material bem ilustrado visualmente:
o homem é um bicho que além de falar, utiliza o sistema visual
como a principal fonte sensorial de informação. Os livros didáticos
e as práticas em sala de aula desconsideram esse fato na maioria dos
casos. É preciso que as atividades, e principalmente os textos, a serem
utilizados com todas as crianças, e principalmente aquelas portadoras
de distúrbios de aprendizagem, sejam muito bem ilustrados, para que
sejam de fácil compreensão;
6) aprender a ler e escrever independente de sua capacidade de fonação: a aprendizagem da leitura e escrita semântica independe da oralidade da criança, por isso a escola tem por obrigação utilizar métodos que privilegiem este tipo de leitura e escrita, que se faz com a compreensão do significados das palavras a ler e escrever, e não se apóia na produção do som correspondente. O aprendizado da leitura e escrita semântica do português pode ser feita até pelo surdo que não aprendeu a falar, pois depende da associação entre padrões visuais (as palavras) e significados a eles atribuídos. A eficiência da leitura e escrita semântica depende fundamentalmente do nível de conhecimento da criança, por isso a escola deve utilizar todos os recursos acima para:
7) expandir seu conhecimento sobre o mundo: a ampliação do conhecimento sobre o mundo é uma necessidade da criança com distúrbios da aprendizagem, pois isso lhe permitirá utilizar sua capacidade de estabelecer relações, para criar alternativas para contornar suas dificuldades de aprendizagem;
8) utilização de ferramentas que reduzam as suas dificuldades: por exemplo, a criança com discalculia deve se valer da calculadora para solução dos problemas ou desafios aritméticos, pois isso reduz a dificuldade da tarefa. O que importa é que a criança aprenda qual o cálculo a ser utilizado e não perca tempo, e com isso fique defasada de sua classe. O treino do cálculo aritmético pode e deve continuar em horários especiais para isso. Não deve haver objeções para o uso da calculadora, quer por parte da escola, quer por parte dos pais, pois todos devem ser lembrar que, hoje, o computador é que se encarrega dos cálculos em qualquer lugar.
A criança portadora de distúrbios de aprendizagem não deve ser discriminada na escola por suas dificuldades, quer sejam elas cognitivas ou comportamentais. Por isso, a escola deve:
9) trabalhar a diversidade como fator evolutivo positivo: professores, funcionários, alunos e familiares devem compreender que a diversidade humana é um fator positivo para evolução do homem, e que portanto deve ser respeitada. Para isso, a escola deve promover palestras, aulas, etc;
10) colocar o trabalho diferenciado com essas crianças como direito e não privilégio: as crianças quando adequadamente orientadas, não questionarão o trabalho diferenciado com as crianças portadoras de deficiências. Compreenderão que não se trata de privilégios e sim de necessidades específicas dessas crianças.
A escola deve discutir adequadamente os direitos da criança com distúrbios de aprendizagem, para criar um ambiente e um programa que por favorecer seu aprendizado, aumente sua autoestima e a sua inclusão social.