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Mogi das Cruzes

Contrato de Conduta Social

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2. A Hiperatividade, Impulsividade e Desatenção

Os distúrbios da atenção são ocasionados por uma alteração do sistema dopaminérgico, que alteram os ciclos de atenção ou tempos operacionais da memória de trabalho. O tempo operacional (TO) para cada atividade depende de um componente emocional (E na Fig. 1) que indica a motivação do indivíduo em realizar aquela atividade e de um componente cognitivo (C na Fig. 1) que modula essa motivação. Esses componentes determinam o grau de atenção (A na Fig. 1) dado à atividade, e que depende da competição (D na Fig. 1) entre os componentes emocional e cognitivo. O tempo operacional TO de uma tarefa T é definido para o período no qual o grau de atenção é suficiente para garantir que o cérebro se empenhe em realizar T.

Fig.1 - Os componentes da atenção

A evolução temporal dos componentes emocional E e cognitivo C se influenciam no controle da atenção A para realização de uma tarefa T. O tempo operacional TO indica o tempo de atenção que pode ser alocado para a realização da tarefa T.

Na hiperatividade o tempo operacional TO é curto (Fig. 2a), por isso o indivíduo muda constantemente seu foco de atenção e não é capaz de realizar tarefas de longa duração, que exijam um planejamento cuja duração ultrapasse seu TO, que é determinado principalmente pelo componente emocional. O componente cognitivo é mais tardio e de menor intensidade. Na desatenção, o TO para algumas atividades de interesse é prolongado (Fig. 2b), não permitindo que o indivíduo foque a atenção sobre outras atividades, isto porque o componente emocional é intenso e de longa duração.

a - hiperatividade ---------------------------------------- b - desatenção

Fig. 2 - Os distúrbios da atenção

A evolução temporal dos componentes emocional E e cognitivo C se influenciam no controle da atenção A para realização de uma tarefa T no caso de um comportamento hiperativo (a) e de um comportamento desatento (b). O tempo operacional TO que indica o tempo de atenção que pode ser alocado para a realização da tarefa T é pequeno na hiperatividade e muito aumentado na desatenção. A impulsividade I é caracterizada por um comportamento socialmente inadequado, gerado principalmente pelo componente emocional.

A impulsividade associada a hiperatividade (I na Fig. 2a) é muito dependente do componente emocional, que está exacerbado na criança hiperativa. A impulsividade é, portanto, constituída por surtos de curta duração nos quais a criança exibe um comportamento socialmente inadequado, em geral de agressividade e/ou agitação. Nessa fase a criança é refratária à ponderação do adulto, pois o componente cognitivo que codifica as regras de conduta social só começará a influir no comportamento da criança mais tardiamente, quando superar o componente emocional.

Várias drogas têm sido utilizadas para melhorar a atenção da criança hiperativa e/ou desatenta, bem como reduzir sua impulsividade. Entre essas drogas, a mais conhecida é a Ritalina. Entretanto, o tratamento químico não promove a cura do distúrbio, pois não promove um ajuste definitivo da funcionalidade do sistema dopaminérgico. Seu efeito é temporário e se restringe ao período de sua administração. Quando instituído, o tratamento químico deve ser de longa duração (um ano ou mais) e coadjuvante das ações tomadas ao nível da escola e da família, para promover um aprendizado adequado das regras de conduta social. A psicoterapia cognitiva pode ser de grande valia nesse aprendizado, mas um trabalho adequado na escola é o fator mais importante para o sucesso do aprimoramento do comportamento social da criança impulsiva.

O trabalho da escola moderna com a criança hiperativa, impulsiva e/ou desatento deve visar os seguintes pontos:

1) o ajuste gradual do tempo operacional da criança, aumentando-o no caso da hiperatividade e reduzindo-o no caso da desatenção;
2) a redução gradual do componente emocional e
3) o aumento gradual do componente cognitivo.

Como a punição tende a exacerbar os componentes emocionais das atividades humanas, deve ser evitada como ferramenta nos ajustes descritos acima. Entretanto, a tradição usa e abusa dessa alternativa, e por isso, em geral, promove a exclusão escolar da criança hiperativa e impulsiva.

A escola moderna deve se valer predominantemente da recompensa com ferramenta efetiva para promover o aprendizado necessário ao controle da impulsividade. Seu código de conduta social deve privilegiar regras que permitam a criança ter mais sucesso do que insucesso no controle de seu comportamento hiperativo, impulsivo e/ou desatento.

 

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