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"O Cérebro na Escola"

Conteúdo

O presente livro foca sua atenção na discussão de alguns temas do aprender na escola infantil e no ensino fundamental, sempre levando em conta o desenvolvimento cerebral dessas crianças. Esta proposta orientou o desenvolvimento do projeto ENSCER, cujo objetivo principal é utilizar o conhecimento fornecido pelas neurociências para orientar o ensino de crianças normais ou portadoras de distúrbios ou deficiências de aprendizagem. O livro discute como utilizar esse conhecimento no dia a dia da sala de aula, para o ensino da Matemática e da Lingua Portuguesa. Propõe estratégias de ensino que exploram os circuitos neurais para linguagem e cálculo. Um das descobertas mais importantes das pesquisas realizadas no projeto ENSCER, foi o fato de que as crianças portadoras de deficiências cerebrais e/ou sensoriais têm uma capacidade de aprendizagem preservada, uma vez que mostrou-se que, tanto o desempenho em várias atividades cognitivas melhora com o seu progresso pedagógico, como também a funcionalidade cerebral acompanha coerentemente esse progresso, da mesma maneira como se descreve para crianças consideradas normais. O livro complementa também, algumas idéias discutidas no livro "O Cérebro: Um breve relato de sua função". O leitor que desejar, ali encontrará mais informações sobre a funcionalidade cerebral associada aos temas aqui discutidos.

O criacionismo já foi o modelo científico dominante em nossa cultura. A partir do século XIX, esse modelo começou a ser substituído por novas hipóteses que privilegiam um universo em constante mutação e cuja organização não segue um plano pré-determinado. As ciências cognitivas se definem pelo interesse em estudar e explicar o fenômeno da cognição em organismos biológicos e artificiais criados pelo homem. Esse objetivo é aceitável dentro de um contexto materialista no qual está implícito que a mente e a fisiologia cerebral estão correlacionadas. O dualismo cartesiano que remete às discussões das relações mente-corpo-alma, é oficialmente descartado como modelo válido de investigação e trabalho. Outra premissa básica das neurociências é que o cérebro é um produto da evolução darwiniana, que seleciona os seres por sua capacidade de adaptação ao meio em que devem viver. O próprio cérebro surge como uma ferramenta para aumentar essa capacidade, por tornar a adaptação mais independente da genética e mais modelável pela experiência e aprendizagem. Aprender e entender são, portanto, assuntos do cérebro. O bem ensinar deve, consequentemente, respeitar a fisiologia desse órgão, mais do que ser definido a partir de modelos teóricos suportados por teorias estranhas às neurociências. Apesar da crença de que mente e cérebro estão correlacionados, a prática corrente na formação dos profissionais do ensinar é muito mais calcada num dualismo cartesiano do que em um entender dos processos biológicos envolvidos no aprender e conhecer. O presente trabalho apresenta uma proposta para orientar o aprender respeitando a funcionalidade do cérebro. Esta proposta orientou o desenvolvimento do projeto ENSCER, cujo objetivo principal é utilizar o conhecimento fornecido pelas neurociências para orientar o ensino de crianças normais e portadoras de distúrbios ou deficiências de aprendizagem, bem como melhor caracterizar a sua funcionalidade cerebral.

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